sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Agora vem a musa.





Desde 2000 que as melodias e letras de Fiona Apple me encantam muito. Foi através da minha prima que fiquei sabendo da existência de uma compositora e cantora que compunha sobre tudo aquilo que eu sentia, só que 100000 vezes melhor do que eu jamais sonharia em saber. Hoje, 7, três discos e muitas espera depois eu só posso ficar sonhando com o dia que essa graciosa cantora ponha os pés em solo tupiniquim, ou que eu tenha condições de viajar pro exterior. Segue a letra de Waltz, composição do último álbum de Fiona, que não é o meu favorito mas é muito, muito bom também.


Waltz (Better Than Fine)
Fiona Apple


If you don't have a song

To sing you're okay

You know how to get along

Humming

Hmmm

If you don't have a date

Celebrate

Go out and sit on the lawn

And do nothing'cause it's just what you must do

Nobody does it anymore

No i don't believe in the wasting of time,

But i don't believe that i'm wasting mine

If you don't have a point to make

Don't sweat it

You'll make a sharp one being so kind

And i'd sure appreciate it

Everyone else's goal's to get big headed

Why should i follow that beat being that i'm

Better than fine

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Muso! Muso! Muso!


Nunca tinha levado Chico Buarque muito à sério. Pra mim era coisa de pseudo-cult querendo pagar de apreciador da música nacional. Já tinha escutado uma meia dúzia das mais tocadas dela e me contentava com isso. Semestre passado, por falta de matéria na Letras eu decidí cursar "Algumas Cidades na Literatura de Chico Buarque". Lá fui eu, completamente ignorante em matéria das obras dele pra sala de aula. O primeiro choque foi a professora: bem humorada, simples, tranquila. Depois ela fez a gente ouvir com atenção, prestar atenção nas mensagens, nas letras, nos símbolos. Pronto, foi o suficiente pra eu me apaixonar. Meio tarde é verdade. Se bem que nunca é tarde pra gente descobrir novas inspirações, é? Segue uma das letras que eu considero mais fantástica dentro tá tão aclamada obra do Chico.

Construção

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado


Esta letra foi retirada do site www.letrasdemusicas.com.br

domingo, 26 de agosto de 2007

A Lapa.

A Lapa é um dos lugares que eu mais gosto no Rio de Janeiro. Talvez pelo cheiro da boemia que paira ali... E também tem muita coisa bonita pra se ver ao redor... Segue um texto fantástico com um pouquinho da história da Lapa que é na verdade uma introdução pra uma antologia de vários autores sobre a Lapa.




Beatriz Kushnir
Lapa do desterro e do desvario – uma antologia
Organizado por Isabel Lustosa
Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2001



Essa coletânea de textos tem como foco a Lapa, como um espaço de sociabilidade boêmia habitado por personagens revestidos de exotismo e decadência. Para muitos que observaram esse palco da diversão e têm para si a cidade do Rio de Janeiro como a materialização tropical da Belle Époque, a imagem da "Montmartre carioca" parece a sua melhor definição. O volume, organizado por Isabel Lustosa, é uma edição bem cuidada que traz 26 escritores, poetas, músicos e cronistas percorrendo esse espaço como habitantes e/ou visitantes, no longo tempo de fins do século XIX aos anos 1970. Além do registro desses escritos, há também a preocupação de reunir quase 30 desenhos e fotos desse território que fascina pela idéia de perdição/beleza/liberdade/caos. Seus autores – cariocas legítimos, ou adeptos da visão de que a cidade é "a outra terra natal de todos nós que não tivemos a graça de nascer aqui", segundo Luís Severo da Costa em um Sabadoyle –, produziram crônicas, letras de músicas e trechos de autobiografias, que aqui foram divididos em duas partes, não nomeadas, mas coloridas, entre o azul e o púrpura. No universo da noite, Isabel Lustosa englobou de Aluísio de Azevedo a Mario Lago, passando por João do Rio e Lima Barreto, Wilson Batista e Noel Rosa, Drummond e Manuel Bandeira, Vinicius de Moraes e Herivelto Martins, entre outros. Já o vermelho sangue tem os depoimentos e/ou a bela escrita de naipes como, entre outros, Madame Satã, Rubem Fonseca e Aguinaldo Silva. Desses múltiplos olhares que recaíram sobre a Lapa, há análises internas, depoimentos de seus moradores, como Satã, Manuel Bandeira e Aguinaldo Silva. Ou também muitas visões que preconceituosamente definiram o bairro, esse emaranhado de becos e ruelas, como um território livre para os pecados da carne, um lugar de perdição onde o clima cheirava a lupanar. Fronteiriça à Glória, a Lapa começa na rua Conde Lage – espaço consagrado ao miché, como também o eram as ruas Taylor e Joaquim Silva –, percorre e atravessa os Arcos e, pela Mem de Sá, chega até a praça Tiradentes – onde a homossexualidade masculina sempre fez calçada. É nesse território, quase um corredor que liga o mar ao centro velho da cidade, que mitos e fantasias construídas sedimentaram no imaginário personagens emblemáticos. Nessa porção da cidade, de códigos definidos e cultuados, boêmia, prostituição, intelectualidade e, principalmente, criatividade em ebulição reinavam. Para além dessa visão colorida, pari passo e na mesma proporção existiam pobreza,doenças, decadência, habitações coletivas – cortiços e as biras [biroscas, quarto-gaveta] que Aguinaldo Silva redesenha com maestria, já que as freqüentou como morador. A Lapa é, portanto, um espaço onde opostos conviviam, porque complementavam-se, como também o reverso, que ali não só tinha vez como era instigado a acontecer. Madame Satã, um como muitos outros estrangeiros do local, certamente, é seu exemplo mais cultuado, rememorado e difundido. Esse negro pernambucano, alto, forte e valente, que trazia uma gilete na sola de seu sapato e nos golpes de capoeira cortava o inimigo, era também um homossexual assumido que se travestia em seus espetáculos, além de oferecer proteção a prostitutas. Entre bandido e justiceiro, após anos de prisão na Ilha Grande, morre no desterro. Sua imagem é sempre a personificação do que seriam os ideários desses filhos da revolução, no sentido do mote transformador, que a atmosfera da Lapa boêmia cultuaria.Nas inúmeras tentativas de se mapear esse território, e perseguindo a idéia de antologias acerca da Lapa, uma seleção de textos sobre o mesmo tema, um pouco mais ampla que essa, foi editada no final da década de 1970 por Gasparino Damatta.

A semelhança entre as duas é que a de Isabel Lustosa manteve duas escolhas de Damatta: Uma noite de chuva ou Simão, diletante de ambientes, de Ribeiro Couto, publicado em 1927, e A última Lapa, de Antônio Maria, de 1959. A crônica de Antônio Maria, esse jornalista pernambucano que se tornou uma figura emblemática na
noite carioca dos anos 1950, poderia ser percebida como um thriller do próprio livro. Ao ser acordado por telefone com alguém lhe pedindo um texto sobre o bairro para uma coletânea, o jornalista refaz sua passagem/morada pelo edifício Sousa, na rua do Passeio, entre 1940 e 1941, antes de se deslocar, como muitos, para Copacabana. Do seu depoimento, como de quase todas as narrativas desse livro, lugares, personagens e a diversidade étnica da cidade e daquele espaço são pontuados, além, é claro, de iluminar as várias vidas possíveis de lá se ter e ser pela manhã, à noite ou na madrugada. Por vezes tem-se a impressão de que o Rio de Janeiro do período tinha uma gama de gentes, no plural, que a tornavam um local bem mais rico em possibilidades e, talvez, mais interessante de habitar. Dos espaços e mitos a se percorrer, a Lapa abriga tanto o locus do sagrado, a Igreja Nossa Senhora da Lapa do Desterro, como as expressões do profano, Madame Satã e seu bloco de Gasparino Damatta, Antologia da Lapa. Vida boêmia no Rio de Janeiro (Rio de janeiro, Codecri, 1978). carnaval dos anos 1930, "Caçadores de Veados" – no qual os homossexuais podiam se travestir de mulher à luz do dia –, a leiteria Bol e o restaurante Capela, as casas de strip-tease, e as salas de boxe. Como ilhas na cidade, nesse bairro aflorava o que era rotulado como perversão. Lá, esse crime e/ou pecado era permitido, vigiado, consentido e punido. Tem sido voz corrente na produção das ciências sociais apropriar-se de termos do discurso médico-policial característico do fim do século XIX e das primeiras décadas do século XX, e aprisionar tais expressões do "proibido", permitidas em alguns espaços da cidade, na concepção de bas fond. Nessa idéia de que existe um subterrâneo da sociedade há uma falsa imagem de que tudo de inóspito mora dois degraus abaixo da superfície. Além de inverídico, estabelece, no território, rupturas/guetos, esquecendo que é no vaivém de seus habitantes pelos espaços da cidade que trocas são permitidas. Nesse sentido, a meu juízo, a concepção e o uso de bas fond deve ser redimensionada e, principalmente, seu emprego repensado. Assim sendo, nesse entra-e-sai de habitués, o baixo meretrício da Lapa – como o Mangue –era tido como o abismo e a decadência, a diversão amarga, o terreno que acolhia e difundia doenças, como a sífilis, entre as prostitutas e seus fregueses. Mas essas doenças não estavam aprisionadas nesse gueto, já que o contato externo as levava para fora dos muros imaginários desse "território do pecado". Além do que, também se percebe uma clara organização espacial dentro desse "território do prazer" para que as funções fossem exercidas. Isso se expressa na divisão do mercado da prostituição. A zona francesa era na rua Silva Jardim e no beco das Carmelitas; as polacas judias, tidas como escravas brancas, ficavam na rua Joaquim Silva, e as brasileiras, as "nacionais", na Morais e Vale. Da janela do seu quarto da Morais e Vale, onde Manuel Bandeira morou em março de 1938, ao deixar o Curvelo e Santa Teresa, o poeta, em Itinerário de Passárgada, descreveu seu"sentimento de solidariedade com a miséria". Lá ele pôde contemplar a paisagem, não como fazia no Morro do Curvelo, sombranceiramente, mas como que de dentro dela. (...) Quando chegava à janela, o que me retinha os olhos, e a meditação (...) era o becozinho sujo em baixo, onde passava tanta gente pobre – lavadeiras, garçons de cafés.Inserido-se nesse panorama de definições e descobertas, o cronista Luís Martins definiu que "a vida, naquele tempo, tinha para mim o sabor das revelações". Assim, as imagens desse lugar continuaram por perseguir Bandeira, e, em Romance do beco, esse também um forasteiro na cidade, se surpreende com a quantidade de gente que por lá passava, pelo caminho aberto nos terrenos dos frades carmelitas da Lapa, [que] começa na praia da Glória e vem morrer na rua Morais e Vale. (...) Toda a mocidade do Rio, estudantes, caixeiros, empregados públicos, artistas, Raul de Leoni... É inacreditável como cabia tanto homem no beco. O beco era a Matriz da cidade. Um dia não pôde mais, rebentou em Mangues.Para além do sexo pago, do prazer rápido e fugidio, a Lapa abrigava uma outra gama de sensações, como o comércio da cocaína. Pelas descrições dos cronistas, visualiza-se o quanto o tema das "drogas ilícitas" teve seu discurso alterado no correr do século XX – de fins medicamentosos e vendidas em farmácias, ao tráfico e à criminalidade. Na descrição de Benjamim Costallat, a Lapa era, nos anos 1920, um local de consumo e distribuição da droga vendida na clandestinidade de um carro parado à espera de fregueses. Como também:(...) o comércio da cocaína é um comércio que opera mais tranqüilamente à noite. De dia, há as farmácias. E não são poucas as que vendem. É só uma questão de preço e de confiança em quem compra...Aliás, toda a cocaína que existe no mercado consumidor saiu da mão de respeitáveis farmacêuticos que a importaram para usos terapêuticos.A circulação dessa droga e o espírito vivido na Lapa, tornaram-na, segundo Costallat, o "bairro da cocaína". Semelhante aos pontos de venda em carros parados, havia também oslegendários Irmãos Meira, que transportavam o pó em anéis lockers, ou os vidrinhos Merkencontrados dentro das farmácias. Costallat, seguindo uma tradição de crônicas de jornal que produziram descrições das suas cidades, como as de Paul Fável em Os mistérios de Londres, elaborou o seu Os mistérios do Rio a partir das narrativas publicadas no Jornal do Brasil. Tornou-se, assim, um exemplo típico, como também o foram João do Rio e Lima Barreto, de flâneur da Belle Époque. É importante sublinhar que, além de criticar essa perversão que a cocaína trazia aos habitantes, Costallat enfatizava uma solidariedade e irmandade tanto no vício quanto na vida, que caracterizavam aquela parte da cidade. Essa referência poderia ser destacada como um fio condutor que aproxima a maioria das narrativas contempladas nesse volume.A noção de auxílio marca magistralmente, contudo, o último depoimento da coletânea, ao meu juízo o mais detalhado, revelador e pungente de todos os escolhidos. Nele, o novelista Aguinaldo Silva se abre por inteiro, e sem meias palavras revela uma Lapa dos anos 1970 em plena decadência. Nesse contexto, desnuda a si e a outros personagens e histórias, descrevendo inclusive sua ''iniciação'' em pequenos crimes, como também suas paixões do período. Aguinaldo Silva vivencia um momento-chave do bairro, da cidade, do país naquele instante, pelas lentes e códigos daquele espaço, deixa a Lapa um pouco antes da grande reforma urbana sofrida com o projeto Corredor Cultural, e também não assiste à derrubada dos cortiços e do chamado Ferro de Engomar– um quarteirão em bico, exatamente no formato do utensílio doméstico. Dentro do ideário ilusionista do milagre econômico que a ditadura civil-militar nos enfiava goela abaixo, transformações, não só espaciais, eram arbitrariamente impostas. Como Satã, Aguinaldo também experimentou um desterro político e não mais voltou ao bairro como morador. A Lapa, contudo, como uma fênix, passa por uma redescoberta, no final do século XX, que a coletânea, infelizmente, não contempla. Portanto, se toda a idéia de uma vida boêmia ali existente era associada às práticas de uma suposta decadência moral, as tentativas de provocar a derrocada física daquele ambiente, como um pólo de criatividade, sobrevoou algumas vezes esse "território do livre". Pela força da caneta, esse espaço do "pecado permitido" foi condenado a desaparecer, pela primeira vez, por uma onda moralista do pós-Segunda Guerra. Apontando essa primeira tentativa de assassinato, de morte da simbologia da Lapa, a narrativa de Antônio Maria, colocada no espaço azul do livro, já quase anunciando os dilemas mais contemporâneos reunidos na segunda parte – ao meu juízo a mais instigante –, resumem esse tempo ao sentenciar queForam os dois últimos anos da Lapa que marcaram época. Vieram logo depois o fechamento dos prostíbulos e a decretação da ilegalidade do jogo. Os malandros iriam ficar por ali, esperando o quê? Dispersaram-se, empobreceram, arribaram nos subúrbios, emcasas de parentes humildes que os esperavam, cheios de fé, com uma cama por forrar e um prato a mais a pôr na mesa.Nesse sentido, as escolhas de Isabel Lustosa recaem sobre textos que procuraram apreender o bairro em seus vários momentos de decadência e opulência, trazendo-o à tona pelo signo do abajur lilás, da ''dolorosa visão da borrada maquiagem de véspera no rosto precocementeenvelhecido das mulheres'', como ela diz na introdução. A organizadora, talvez sem se dar conta, insinua a lembrança de um outro personagem que, mesmo não sendo do local, carregava o estigma da marginalidade – Plínio Marcos. Para Lustosa, ''o que surge na literatura sobre o bairro não é a malandragem, mas as mulheres de vida fácil, um certo desencanto e um ceticismo crítico''. Essa bruma de alegria-triste define tanto o encanto pela história da Lapa quanto o seu mistério. Abrigando um espaço criativo e transformador, envolto no signo da decadência, a Lapa está sempre em pauta. Suas transformações arquitetônicas ao longo das décadas espelham as rugas que marcam o rosto dessa Cidade-Metrópole, Cidade-Capital que não perde, felizmente, essa aura da inventividade criadora. Dentro desse espírito de renascimento e transformação, de fim de linha e recomeço eterno, de berço e morte, em 10/4/2002, o jornalista Elio Gaspari, em sua coluna para o jornal O Globo, narrou uma visita que fez ao recém-remodelado bairro da Lapa, que vem recebendo da Prefeitura da cidade obras de saneamento e infra-estrutura. Entusiasmado com o encontro do passado que está impresso no casario e nos paralelepípedos das ruas do Lavradio, Inválidos, Moraes e Vale e da avenida Gomes Freire, definiu que "deu-se na Lapa o reencontro das duas cidades que convivem no Rio, a dos pobres e a daqueles que acham que não são pobres. Sempre que essas duas populações se encontram, o Rio floresce. Sempre que elas se separam, a cidade se degrada". Contaminados por essa aposta na integração de territórios e abandonando um discurso médico-policial tão marcadamente moralista, autoritário e segregador, que dividiu a cidade e seus habitantes por uma moral da boa conduta, é que se percebe que a saída está em não fracionar. Para tal, há que se aproximar os espaços e desconstruir a visão de uma cidade sã versus o lupanar, investindo, portanto, no contato e na mistura. Como também, acreditando que não são os mortos que dominam os vivos e, sim, que há uma tradição e uma cultura vinculadas aos processos de criatividade e não de fossilização. Refletindo acerca das manifestações culturais como uma "fala" do que está pulsando, sabe-se que, infelizmente, muitas vezes as expressões da cultura popular receberam das elitesgovernamentais, durante o século XX, tentativas de desestruturação pela repressão policial. Nesse sentido, os diversos movimentos da Lapa para se auto-reconstruir comprovam a falência de um discurso que estabelece, ilusoriamente, "bolsões de saber" nos espaços da cidade, e os opõem aos "lugares do prazer". Busca-se, assim, separar conhecimento e satisfação, corpo e mente, como se fossem universos estanques e incomunicáveis. Esse quadro de políticas públicas e culturais cria uma errônea idéia de: ou parternalizar a cultura popular – engessando-a a uma imagem idealizada – ou conceder-lhe um status de inferior.
Nessa perspectiva de congelar uma manifestação cultural num suposto momento de nascimento, reencenando-o inúmeras vezes depois, não irá preservá-la. Muito pelo contrário, essa falsa noção de uma proteção irá matá-la pela asfixia que o engessamento produz.Para ilustrar e concluir, retorno à sugestão de Gaspari: apostar no diálogo e na integração das "partes da cidade" e, portanto, discordar da percepção, quase um devaneio lunático, de que a cidade, como um corpo, pode ser partida em pedaços, em que cada porção corresponderia a um lugar de saciedade. Para visualizar tal idiossincrasia, fico com as saborosas narrativas de Orestes Barbosa, recuperadas por Lustosa. Esse carioca, jornalista e compositor desenha, com maestria, a história de Alice Cavalo de Pau – uma entre as muitas prostitutas imortalizadas na fantasia da "vida fácil".No bordel de Alice, na rua Maranguape, a nata da política nacional vivenciava os prazeres da carne, como se em outros espaços contemplassem apenas o regozijo das mentes. Um cliente de renome lhe pede uma moça, mas faz uma ressalva: "Quero dormir com uma mulher inteligente". Dentro da perspectiva de criar ilusões e "faturar" alguns trocados, algumas prostitutas se faziam passar por francesas e se aproveitavam da febre do culto à cultura européia. A cafetina Alice não consegue compreender seu freguês e faz graça de seu pedido. Desejando sintonizar o homem ao lugar onde está e ao que realmente ali há de melhor, soluciona a A Lapa e os filhos da revolução boêmia.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Fernando Pessoa em Ricardo Reis

Gosto das Odes de Ricardo Reis, sempre com suas musas e seu paganismo. Não dava muito crédito à Fernando Pessoa até fazer uma matéria sobre Literatura Portuguesa. Desde então, apaixonei-me por ele e outros autores lusitanos. Fica ai, a minha ode preferida de Ricardo Reis, para Lídia, uma musa recorrente num poema que renega qualquer paixão ou sentimentos muito fortes pois "que gozemos, quer não gozemos passamos como o rio, mais vale passar silenciosamente". Recomendo também a leitura de Saramago em "O ano da morte de Ricardo Reis" em que ele narra o que poderia ter acontecido ao heterônimo de Pessoa.

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quise'ssemos, trocar beijos e abrac,os e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Pergunta:


Porque é que nós, seres humanos, complicamos tanto?

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Porque eu acordei me sentindo poderosa...




Phenomenal Woman - Maya Angelou



Pretty Women wonder where my secret lies

I'm not cute or built to suit a model's fashion size

But when I start to tell them

They think I'm telling lies.

I say It's in the reach of my arms

The span of my hips

The stride of my steps

The curl of my lips.

I'm a woman

Phenomenally

Phenomenal woman

That's me .

I walk into a room

Just as cool as you please

And to a man

The fellows stand or

Fall down on their knees

Then they swarm around me

A hive of honey bees.

I say

It's the fire in my eyes

And the flash of my teeth

The swing of my waist

And the Joy in my feet.

I'm a woman

Phenomenally

Phenomenal woman

That's me.
Men themselves have wondered

What they see in me

They try so much

But they can't touch

My inner mystery.

When I try to show them

They say they still can't see.

I say It's in the arch of my back

The sun of my smile

The ride of my breasts

The grace of my style.

I'm a woman

Phenomenally

Phenomenal woman

That's me.

Now you understand

Just why my head's not bowed

I don't shout or jump about

Or have to talk real loud

When you see me passing

It ought to make you proud.

I say It's in the click of my heels

The bend of my hair

The palm of my hand

The need for my care.

'Cause I'm a woman

Phenomenally

Phenomenal woman

That's me.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Cria minha

Eu costumava escrever poesia.
Pelo menos eu achava que era poesia. Na verdade eu ainda gosto de algumas e tantas outras eu acho que se eu mexesse um pouquinho, dava pra melhorar. Mas o problema é que antes eu acreditava na poesia como algo "psicografado", do tipo a inspiração baixou, eu escreví e pronto.
E é ai que mora o engano. Poesia é um trabalho ardoroso, minucioso e tem dias que é chato mesmo. Mas talvez não fosse tão bom de ler se não fosse assim né?
Essa introdução toda é pra dizer que o próximo poema é meu. É simples, meio tolinho, mas meu. E como boa mãe, tenho orgulho dos meus filhinhos, até os mais tolinhos.

Toda mulher

Toda mulher
Quer
Um corpo
ao lado do seu
Toda mulher
Quer
Um principe
O seu Romeu
Toda mulher
Quer
O fogo
De Prometeu
Toda mulher
Quer
Um homem
Para ser seu

domingo, 19 de agosto de 2007


Ou na minha imagem em preto e branco, já que "Narciso acha feio o que não é espelho".
Na verdade eu publiquei a foto apenas pra salva-la em meu perfil. Ó vaidade.

Poesia nos sorrisos e nos cachinhos dourados da Bruna...

sábado, 18 de agosto de 2007

Eu vejo poesia em tudo...




Até na torta de morangos que a minha vó fez pro almoço de amanhã...
A verdade é que eu considero a "vermelhidão" dos morangos e suas pintinhas algo muito poético... risos... E uma pessoa glutona como eu acha uma torta dessa praticamente um soneto!

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

E é assim que eu quero ficar com você...


Adélia Prado

Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde temo desenho cômico de um peixe — os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua barba. Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:
“Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas
o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não
ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros”.
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam
uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como
o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece,
tira de mim o ar desnudo, me faz bonita
de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando
os panos, se alargando aquecido, dando
a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te amo,
o que não queria dizer amo também, o piolho. Assim,te amo do modo mais natural, vero-romântico,
homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles
eu beijo.
James Morrison - You Give Me Something

You want to stay with me in the morning
Bur you only hold me when I sleep,
I was meant to tread the water
Now I've gotten in too deep,
For every piece of me that wants you
Another piece backs away.
'Cause you give me something
That makes me scared, alright,
This could be nothing
But I'm willing to give it a try,
Please give me something
'Cause someday I might know my heart.
You already waited up for hours
Just to spend a little time alone with me,
And I can say I've never bought you flowers
I can't work out what they mean,
I never thought that I'd love someone,
That was someone else's dream.
'Cause you give me something
That makes me scared, alright,
This could be nothing
But I'm willing to give it a try,
Please give me something,
'Cause someday I might call you from my heart,
But it might me a second too late,
And the words I could never say
Gonna come out anyway.
'Cause you give me something
That makes me scared, alright,
This could be nothing
But I'm willing to give it a try,
Please give me something,
'Cause you give me something
That makes me scared, alright,
This could be nothing
But I'm willing to give it a try,
Please give me something
'Cause someday I might know my heart.
Know my heart, know my heart, know my heart

Como é que a gente diz eu te amo?

É certo que existem diversas formas de amar... E diversas forma de dizer "eu te amo".
Estou apenas observando algumas delas...

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

... E lá se vai mais um dia.

Quotations...

Art is the desire of a man to express himself, to record the reactions of his personality to the world he lives in.


Amy Lowell (1874 - 1925)

sábado, 4 de agosto de 2007

Porque eu não vivo sem samba!

Tem mais samba Chico Buarque
1964 -Para o musical Balanço de Orfeu de Luiz Vergueiro


Tem mais samba no encontro que na espera
Tem mais samba a maldade que a ferida
Tem mais samba no porto que na vela
Tem mais samba o perdão que a despedida
Tem mais samba nas mãos do que nos olhos
Tem mais samba no chão do que na lua
Tem mais samba no homem que trabalha
Tem mais samba no som que vem da rua
Tem mais samba no peito de quem chora
Tem mais samba no pranto de quem vê
Que o bom samba não tem lugar nem hora
O coração de fora
Samba sem querer
Vem que passa
Teu sofrer
Se todo mundo sambasse
Seria tão fácil viver